Um avião U-2 dos Estados Unidos foi abatido sobre Cuba [#4]

0
(0)

Querido amigo, Alessandro. Havana, 30 de outubro de 1962

Espero que esta carta te encontre bem. Por aqui, ainda tento recuperar o fôlego depois dos últimos dias. As minhas mãos tremem enquanto escrevo, e sinto que preciso contar-te o que vivi. Talvez, ao colocar tudo no papel, eu consiga entender melhor a gravidade do que aconteceu.

No meio de outubro, corriam rumores sobre algo grande, mas ninguém sabia ao certo o que estava acontecendo. Foi só no dia 16 que a verdade veio à tona: os americanos descobriram que a União Soviética estava a instalar mísseis nucleares em Cuba, apontados diretamente para os Estados Unidos.

Como é óbvio, os Estados Unidos odiaram essa transformação. Mandaram tropas cubanas para Cuba com o objetivo de acabar com o comunismo. A resposta de Washington foi imediata: um bloqueio naval à ilha. Todos estávamos preparados para o pior. Circulavam rumores de que as forças armadas haviam alcançado o nível DEFCON 2, um estado de prontidão militar que nunca antes chegara tão próximo de uma guerra nuclear.

O momento mais crítico ocorreu no último sábado, já chamado de “Sábado Negro”. Um avião U-2 dos Estados Unidos foi abatido sobre Cuba e, por um instante, pareceu que não haveria mais retorno. A tensão aumentava a cada hora, e o mundo inteiro prendia a respiração.

Durante 13 dias, vivemos à sombra do pior desfecho possível. Ouvíamos nos rádios discursos inflamados de Kennedy e Khrushchev, e cada nova notícia parecia empurrar-nos mais para o abismo. O exército cubano estava em alerta máximo, pronto para o combate. Falava-se de um ataque iminente, talvez até de uma invasão.

Cada barulho no céu fazia os corações dispararem, à espera de uma notícia a qualquer momento. Mas o que mais nos assustava não era o som dos aviões ou as palavras duras dos líderes. Era apenas o medo silencioso, aquele que se instalava quando pensávamos no pior. Se a guerra começasse, não haveria tempo para escapar. Uma única bomba poderia destruir cidades inteiras.

E nós? Estaríamos aqui para contar essa história?

Então, quando finalmente veio a notícia do acordo, foi como se o mundo voltasse à vida. A União Soviética retiraria os seus mísseis de Cuba, e, em troca, os americanos prometeram não invadir a ilha e remover os seus próprios mísseis da Turquia.

Mas, apesar do alívio, algo permaneceu dentro de mim: a certeza de que estivemos perigosamente perto do fim. Pela primeira vez, vi com clareza o quão frágil é a paz quando ela depende da decisão de poucos homens.

Agora, enquanto escrevo, uma pergunta não sai da minha cabeça: e se, da próxima vez, não houver negociação? Como seguir a minha vida sabendo que, a qualquer momento, tudo pode acabar?

Gostaria muito de saber o que pensas sobre tudo isso.

Espero tua resposta.

Com carinho, Tua grande amiga, Madalena Sofia Janos Correta

Gostaste desta publicação?

Deixa a tua votação! Ou se quiseres, comenta abaixo.

Média das votações 0 / 5. Vote count: 0

Ainda sem votos. Queres ser o primeiro?

Ai é?

Segue-nos nas Redes Sociais