O Comunica lança hoje a terceira série de textos históricos ficcionais elaborados nas aulas de História, desta vez dedicados ao conturbado período da perda da nossa nacionalidade (1580-1640). Parabéns ao prof. Luís e aos alunos que aderiram ao projeto.
Na disciplina de História do 8.º Ano, o professor apresentou uma proposta de trabalho de grupo (três alunos), para os alunos escreverem um texto onde imaginavam ser uma personagem da sociedade da época (do povo, da burguesia, da nobreza ou do clero) que viveu em Portugal, na passagem do século XVI para o século XVII e assistiu à perda da independência nacional em 1580 e à Restauração da mesma em 1640. Os textos deviam obrigatoriamente seguir as indicações previamente comunicadas aos discentes:
– Título: A Restauração da Independência Nacional;
– Apresentar uma personagem do séc. XVI (povo, burguesia, nobreza ou clero);
– Referir a forma como Portugal perdeu a independência no ano de 1578 (D. Sebastião / Batalha de Alcácer Quibir);
– A intervenção do Cardeal D. Henrique na crise de sucessão ao trono de Portugal;
– Os três candidatos ao trono de Portugal;
– Que grupos sociais apoiavam os diferentes candidatos ao trono e destacar quem a personagem apoiava;
– As Cortes de Tomar de 1581;
– A União Ibérica e a dinastia Filipina;
– As razões que levaram os portugueses a querer novamente a independência (razões da personagem);
– A revolta do dia 1 de Dezembro de 1640;
– As dificuldades na guerra da independência com a Espanha;
– O novo rei português e a nova dinastia.
– Muita imaginação…
Olá! O meu nome é D. Luísa de Bragança e sou um membro da alta nobreza. Nasci a 17 de dezembro de 1562, uma época de estabilidade para o reino de Portugal, mas tive a oportunidade de viver durante uma fase de mudança e pude assim observar a evolução e a regressão do reino de Portugal desde 1578 até 1668.
Em 1568, quando eu ainda nem era nascida, D. Sebastião subiu ao trono de Portugal. A minha mãe e as minhas aias contaram-me que ele se tornou rei ainda muito jovem e que teve uma educação que o incentivou a ter um grande espírito de cruzada, sendo o seu principal objetivo conquistar territórios no Norte de África.
Pouco depois de eu ter completado 15 anos, os meus educadores começaram a falar-me sobre o seu projeto. Eles diziam que o nosso rei estava a preparar uma grande armada com vários jovens nobres com rumo ao Norte de África e que a vitória seria garantida. Não tardou muito para que o seu projeto se realizasse. Em 1578, a tão falada armada partiu a caminho de Alcácer-Quibir. O meu pai e o meu irmão mais velho também foram convocados. Eu senti-me desolada, mas a minha mãe e as minhas aias confortaram-me dizendo que a vitória era garantida.
Pelos relatos do meu irmão, a batalha (que foi intitulada de Batalha de Alcácer-Quibir) aconteceu a 4 de agosto de 1578 e foi um fracasso militar para Portugal. Desta, só sobreviveram cerca de 100 soldados sendo um destes o meu irmão. O meu pai foi morto com uma bala de canhão. A casa de Bragança fez uma cerimónia fúnebre em memória de todos os soldados falecidos.
Para além da morte e do aprisionamento de milhares de soldados, o nosso rei também desapareceu na batalha, trazendo várias consequências políticas para o reino. Quem sucedeu ao trono foi o seu tio-avô, o Cardeal D. Henrique, que já tinha cerca de 66 anos. Devido à idade avançada morreu cerca de 2 anos depois, em 1580, sem deixar descendência. Assim, nesse mesmo ano, iniciou-se uma crise dinástica que podia ter como consequência a perda da independência portuguesa.
Havia três principais candidatos: D. António Prior do Crato, D. Catarina de Bragança e D. Filipe II, rei de Espanha. Todos eram apoiados por diferentes grupos sociais, sendo D. António Prior do Crato apoiado pelo povo (que temia a perda da independência), D. Catarina de Bragança apoiada pelos membros da nobreza e do clero da casa de Bragança (devido à existência de laços de fidelidade) e D. Filipe II de Espanha apoiado pela burguesia (devido ao interesse num mercado mais vasto e rico) e pelos restantes membros da nobreza e do clero (devido à cobiça de altos cargos de administração espanhola). Eu, como nobre da casa de Bragança, depositei todo o meu apoio em D. Catarina de Bragança. Na minha opinião, ela teria sido a escolha mais sensata, pois garantiria a independência de Portugal e, além disso, traria grande prestígio à casa de Bragança. Embora sabendo que, ela por ser mulher, estava numa posição menos favorecida.
Depois da Batalha de Alcântara (onde um exército em nome de D. Filipe II de Espanha venceu o exército de D. António Prior do Crato), D. Filipe II de Espanha fez-se aclamar rei de Portugal nas Cortes de Tomar em 1581. Nas cortes ele fez várias promessas que pareciam ser promissoras para o reino prometendo a autonomia de Portugal, reconhecendo o país como Estado soberano com direitos próprios. Pelas promessas feitas aos portugueses, o reino mantinha a língua portuguesa como língua oficial; continuava a poder cunhar e usar a moeda própria; mantinha nos altos cargos de justiça, da Igreja, da administração pública e do Império Ultramarino funcionários portugueses e o vice-rei seria sempre português. Para além destas promessas, os portugueses também poderiam ocupar altos cargos políticos em Castela. O meu avô materno (que esteve presente nas Cortes de Tomar e que eu considerava bastante sábio) relatou-me a mim e ao meu irmão que a União Ibérica (que consistia na união de duas coroas – Monarquia Dualista) seria uma grande oportunidade para Portugal recuperar dos problemas económicos que a crise do Império Português com o Oriente tinha trazido. Iniciou-se então, em 1581, a Dinastia Filipina, que durou cerca de 60 anos e que contou com o reinado de três reis: D. Filipe II de Espanha; D. Filipe III de Espanha e D. Filipe IV de Espanha.
Durante o reinado de D. Filipe II de Espanha em Portugal (1581-1598), as promessas foram maioritariamente cumpridas e o seu reinado em Portugal correspondeu a um período de grande prosperidade económica. Contudo, a partir do reinado de D. Filipe III de Espanha o descontentamento da população portuguesa aumentou gradualmente pois a crise que afetava Espanha (a Guerra dos Trinta Anos, a guerra na Catalunha, a diminuição da produção do ouro e da prata entre outros fatores) começou a afetar Portugal fazendo os reis (D. Filipe III e IV de Espanha) quebrar as promessas que o seu antecessor tinha feito nas Cortes de Tomar. Deste modo, as tropas e as embarcações portuguesas foram envolvidas nas guerras europeias da Espanha (Guerra dos Trinta Anos contra França…); foram criados novos impostos para pagar essas guerras sem se consultar as cortes portuguesas, que levaram a revoltas populares; as potências Europeias, nomeadamente a Holanda e a França, conquistaram e ocuparam algumas colónias portuguesas na África, no Oriente e no Brasil; colocaram uma estrangeira (a Duquesa de Mântua) no governo de Portugal; muitos nobres portugueses foram afetados perdendo os seus cargos e influências no território espanhol; os nobres temiam que as revoltas populares se revoltassem contra eles; muitos nobres portugueses estavam revoltados com ao seu recrutamento para ir combater na província espanhola da Catalunha que se tinha revoltado e procurava a Independência.
Lembro-me de, em setembro de 1637, ler uma carta de uma amiga, a Duquesa de Beja, onde esta me contava sobre uma revolta ocorrida em Évora, intitulada de Revolta do Manuelinho, na qual o povo, como forma de demonstrar o seu descontentamento, queimou os livros dos assentos das contribuições reais e acometidas.
Com o passar dos anos, cerca de cinquenta homens (40 nobres e os restantes 10 membros do clero e da burguesia) nacionalistas e patrióticos formaram um grupo clandestino (Os Conjurados) que tinham como objetivo restaurar a independência de Portugal. No dia 1 de dezembro de 1640, houve uma revolta para reconquistar a independência de Portugal, liderada pelos conjuradores que aprisionaram a vice-rainha de Portugal, a duquesa de Mântua (também conhecida como Margarida de Sabóia) e mataram o seu secretário de Estado, Miguel de Vasconcelos, que foi arremessado pela janela do Paço Real de Lisboa. Foi considerada uma vitória para toda a população portuguesa.
D. João, Duque de Bragança, foi aclamado rei de Portugal (adquirindo o nome de D. João IV, o Restaurador) e governou até à sua morte. Acredito que até aos dias de hoje D. João IV seja considerado o líder da Guerra da Restauração pela conquista e reconhecimento da independência de Portugal do controlo da Espanha. A Restauração da Independência de Portugal marcou o fim de sessenta anos de União Ibérica e o início da dinastia de Bragança. Contudo, a guerra entre os dois países Ibéricos continuou durante mais 28 anos até 1668. Os portugueses tiveram de adotar estratégias para ultrapassar as dificuldades financeiras e os recursos humanos (soldados para combater juntamente com Portugal) tendo assim se aliado a países como a França e a Inglaterra. Em 1668 a Espanha reconheceu a independência de Portugal.
Turma 8.ºD
N.º1 Ana Patrícia Sanz | N.º4 Angélica Duarte | N.º11 Leonor Araújo