Somos espancados até desmaiar. O relato de uma escrava.

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Sou uma escrava e fui capturada na Guiné, no continente africano quando era ainda uma jovenzinha. Era uma rapariga feliz e com estatuto, era filha do chefe da tribo e um futuro promissor me aguardava.

Mas o destino atraiçoou-me e hoje já sou uma mulher madura, mas com marcas profundas e por muito tempo que ainda viva nunca me esquecerei pelas dificuldades e privações que passei e continuo a passar.

No dia em que a minha vida mudou, estava a apanhar sorgo quando me apanharam e me levaram acorrentada com outras pessoas da minha tribo para um grande barco que estava na costa. Levaram-me para o porão do navio, onde continuei acorrentada e onde permaneci muito apertada com outras pessoas. Estávamos todos nas mesmas condições.

A viagem foi longa e difícil, pois quase sufocávamos no porão, dada a quantidade de gente que ali era transportada. E sabem porquê? Quantos mais escravos levassem no mesmo transporte mais lucro tinham. Éramos uma carga comparados a sacos de pimenta, amontoados no porão, como os que vinham da Índia.Não nos alimentavam devidamente, nem nos davam água quando precisávamos. Para além da fome e da sede, não tínhamos condições mínimas de higiene e privacidade.

Quando cheguei a terra, vi-me livre do navio, tinha mais espaço, mas não me livrei das correntes. Estas continuarão agarradas a mim até chegar ao mercado negreiro. Lá deram-me de comer e permitiram dar banho, arranjaram-me o cabelo e passaram óleo no corpo para me dar uma aparência saudável.

Uns dias depois fui posta à venda e o Sr. José, um rico proprietário de um engenho de açúcar, acabou por me comprar a bom preço. Levou-me para a sua fazenda e comecei a trabalhar de imediato. Acreditem! No dia em que lá cheguei, fui logo trabalhar para o canavial. Foram tempos muito duros, a saudade apertava, a tristeza nunca desaparecia.

Agora estou mais conformada e em todos estes anos trabalhei e ainda trabalho muito para sobreviver, pois sempre que não correspondo às expectativas do meu patrão, este manda o capataz espancar-me no tronco. Somos espancados até desmaiar.

Nunca pensei passar por uma situação destas, isto é coisa que não passa pela cabeça de ninguém, mas a esperança de ser livre ainda vive em mim assim como o desejo de um dia voltar a África.

Matilde 8.ºB

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