A Beatriz do 9D, ou Nikolai, também participou na revolução. Como camponês.

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Soldados russos prisioneiros na 1.ª Guerra Mundial

A Revolução Russa vista por um camponês

Levantava-me como fazia todos os dias, vestia a minha roupa que, embora fosse de alguns dias atrás e de estar bastante rota e suja, admirava a forma como tinha o meu nome Nikolai tricotado pela minha mulher. De facto, ela tinha muito jeito para a coisa e recordo-me de ver os meus filhos ainda pequenos e sem noção da vida a correrem por toda a casa.

O que me levou a pensar na vida e nos tempos difíceis que vivíamos durante o tempo do nosso “paizinho” czar Nicolau II. Uma sociedade completamente hierarquizada em que a minha família era só uma entre a maioria das outras famílias e pessoas que viviam na Rússia e que não tinham qualquer privilégio, trabalhavam horas e horas sem parar, a receber salários inadmissíveis e tudo isto para garantir uma refeição e pagar os exigentes impostos. Já para não falar nos burgueses que quase nem existiam. Tínhamos uma nobreza que participava nas guerras e um clero que tentava acalmar toda a população e de a convencer que tudo ia melhorar, embora eu nunca fosse nessa conversa. Bastava olhar para a nossa política absolutista e a nossa miserável economia que dependia dos capitais e técnicos estrangeiros, que apostavam na Rússia precisamente para a explorar.

E lá ia eu todas as manhãs, um beijinho para cá e um beijinho para lá e saía de casa para a minha triste rotina de camponês e que apesar de comer quase nada ao pequeno-almoço precisava de força para todas as práticas artesanais que a agricultura exigia.

Passaram alguns tempos e tudo continuava igual ou pior, até que no ano de 1905 a população decidiu pacificamente se protestar em frente ao palácio do czar, reivindicando a melhoria das condições de vida, o fim da censura, a criação de um parlamento e a criação de uma Constituição. O Czar acabou por não tomar a decisão mais adequada e recebeu a população a tiro, imensas pessoas morreram e outras ficaram feridas. Na altura arrependia-me de não ter feito parte da manifestação, mas logo após a notícia que chegou fiquei mais tranquilo por não o ter feito. Ganhavam assim mais força os partidos políticos clandestinos, como o partido liderado por Lenine (Partido Operário Social Democrata Russo), que defendia tudo aquilo que eu apoiava como a proletarização e o fim da sociedade sem classes). E o outro partido político liderado por Kerensky (Partido Constitucional Democrata) que defendia a instauração da democracia. O Czar, vendo-se ameaçado toma algumas medidas, tais como a criação da Duma apenas com pessoas da sua confiança, prometeu a criação de uma Constituição que nunca chegou a criar e deu liberdade aos partidos políticos clandestinos embora por pouco tempo, devido às críticas à sua governação autocrática.

Chegávamos então a 1914, lá ia eu até ao centro da aldeia quando vejo o carteiro a vir na minha direção. Logo após saber que a Rússia tinha entrado na 1ª Guerra Mundial, morria de medo de ser chamado para a mesma. E foi precisamente o que aconteceu e eu não tinha maneira de escapar. Fiquei devastado por ter de abandonar a minha mulher e os meus filhos, mas sabia que por eles de qualquer forma eu teria de regressar. A Rússia não tinha qualquer hipótese de ganhar e muitos soldados rendiam-se perante a Alemanha ou então desertavam tal como eu. Voltei para uma pequena cidade que não conhecia e aumentava o número de pessoas desempregadas. Como era de esperar o desemprego levava à fome e a fome levava às revoltas. Viviam-se climas tensos na Rússia.

Em fevereiro de 1917 dá-se a Revolução Burguesa, na qual se fizeram manifestações em S. Petersburgo e quando o czar achava que tinha tudo no seu controlo, as suas tropas voltaram-se contra ele, fornecendo armas a toda a população. É obvio que Nicolau II foi obrigado a abdicar e deu-se um golpe de Estado. Formaram então o governo provisório liderado por Kerensky que de imediato instituiu uma democracia que defendia a propriedade privada que era algo que não me agradava de todo. Para além disso, manteve a Rússia na 1ª Guerra Mundial que também não me favorecia visto que eu queria voltar a encontrar a minha família. Como já referi, a guerra estava a ser horrível para toda a população era cada vez mais a fome e o número de pessoas desempregadas sem saber o que fazer da vida. Eu conseguia-me aguentar, mas era de tal forma assustador não saber o que os meus num canto qualquer desde enorme país, passavam. Mais uma vez, a população revolta-se e desta vez eu fiz parte dela.

Em outubro do mesmo ano, Lenine apoiado por Trostky organizava os sovietes (grupo de pessoas que eram soldados, operários e camponeses) e prendeu os ministros do governo provisório dissolvendo de novo a Duma, que tinha voltado a funcionar no governo provisório. Lenine não hesita e retira a Rússia da guerra. Pensei logo que era um homem livre e procurei de imediato a minha família que parecia mais que subnutrida, porém, feliz de me ver e eu igualmente. Criávamos assim uma sociedade sem classes seguidas pelas ideias do marxismo que colocou um fim nas propriedades privadas que não foi o melhor para toda gente e toda a produção agrícola que não fosse para consumo próprio seria para o Estado. Nacionalizou também a banca e o comércio externo.

No ano de 1918, ocorreu a morte de czar Nicolau II visto que na dita Guerra Civil em que os russos brancos queriam que ele regressasse eram apoiados por outros países da Europa e até mesmo os Estados Unidos, pois estava claro tanto para mim como para todas as outras pessoas que esses países temiam que as nossas ideias se espalhassem. Acabaram por ser derrotados por nós russos vermelhos que insistíamos no comunismo.

Lenine sempre me fascinou pela incrível maneira como falava connosco e como nos sabia captar, contudo o comunismo de guerra que o mesmo instaurou, não foi o melhor pelas mais variadas razões como o estabelecimento da censura. Fazendo com que a Rússia voltasse a cair na miséria. Lenine era esperto e sabia, que as trocas no país eram muito escassas e concedeu, face a um descontentamento à radicalização do comunismo, um pequeno recuo. Criou a Nova Política Económica (NEP) dando mais abertura aos setores privados, o que como é obvio ajudou principalmente os operários, mas também os camponeses que se empenhavam, tal como eu que consegui aumentar a minha produção. Acabou por dar uma pequena abertura a todos aqueles que apoiavam o capitalismo.

Termino dizendo que tenho pena pela morte de um homem tão preocupado e ligado ao povo. Lenine para mim será sempre um exemplo e sempre tive consciência da vida tão dura que levei apesar de não gostar de me lamentar, pois nunca tive tempo para isso. Apoiei o comunismo como qualquer pobre faria e fiz tudo pelo bem-estar dos que eu mais adorei.

 

Beatriz Barbosa   9ºD

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