Na disciplina de História do 9.º Ano, o professor lançou o repto aos alunos para escreverem um texto onde eles se imaginavam soldados da 1ª Guerra Mundial a combater nas trincheiras. Iniciamos aqui no Comunica o lançamento da minissérie «O homem das trincheiras». Os textos deviam obrigatoriamente seguir as indicações dadas:
– Nacionalidade do soldado; – A aliança político-militar a que pertencia; – Em que frente de combate e que inimigos combatia; – Explicar o que eram as trincheiras; – Associar às trincheiras as más condições climáticas e a difícil vida dos soldados; – A fome, os parasitas, as doenças que afetavam os soldados; – O armamento utilizado (metralhadoras, canhões, gases asfixiantes…); – A «terra de ninguém»; – Como eram planeados os ataques pelos chefes militares; – (…) o desespero dos soldados; – O resultado da guerra tendo em conta a nacionalidade do soldado que escolheu ser.
Aqui fica o primeiro
«O homem das trincheiras» (Parte I)
Daniela Alves Nº 7 – 9ºA
Sou o soldado Gomes, um soldado como milhares de outros que conheceram uma guerra que não nos trouxe dignidade, nem prestígio, apenas dor e sofrimento.
Pertenci ao Regimento de Infantaria de Braga e eu e os meus companheiros fomos mobilizados para fazer parte do grupo de militares que seguiu para a Frente Ocidental, no Nordeste de França, onde combatemos pelos Aliados (França e Grã Bretanha) contra as tropas alemãs. Estávamos no ano de 1917 e chegados à frente de batalha fomos combater para as trincheiras. Ficamos então a conhecer esta tática militar (Guerra de Trincheiras) que consistia em cavar extensas valas no chão e que depois eram protegidas com arame farpado, pedras e sacos de areia e onde fomos colocados para defender a nossa posição. As trincheiras eram então construídas pelas duas partes do conflito a cerca de 200 metros de distância uma da outra e o espaço de separação era chamado de “terra de ninguém”, pois poucos soldados arriscavam passar para atacar o inimigo, já que facilmente acabariam por ser atingidos e morrer, ou mesmo se ficassem feridos, eram difíceis de ser socorridos e acabavam por morrer em grande sofrimento. O objetivo consistia em expulsar o inimigo da sua trincheira de forma que este ficasse vulnerável e se rendesse. Com o decorrer da guerra, a construção e a conservação de trincheiras foi sendo melhorada, mas as condições de vida nas trincheiras eram verdadeiramente angustiantes.
Eramos mantidos nas trincheiras por muito tempo, às vezes meses, sem as mínimas condições de sobrevivência. Eu e os restantes soldados sofríamos muitas privações e estávamos expostos a doenças; não havia condições de higiene e passamos muita fome e frio. Eram locais terríveis principalmente quando chovia, pois como eram valas em terra transformavam-se em autênticos lamaçais e eu e os meus companheiros ficávamos sujos e encharcados e, devido à falta de fardas e calçado, permanecíamos assim e depois facilmente ficávamos doentes, mas mesmo assim, doentes e em dificuldades, teríamos que permanecer sempre em estado de alerta no caso de sofrermos algum ataque. Os poucos alimentos existentes nas trincheiras facilmente ficavam estragados, bem como o armamento e as munições guardadas no local.
Com o decorrer da guerra os chefes militares que coordenavam a tática ofensiva começaram a dar mais importância à utilização da infantaria em ataques apoiados pela cavalaria e fomos também conhecendo as grandes novidades do conflito com a atuação da artilharia pesada com novos tipos de munições, o recurso a obuses, à contrabateria, à observação aérea, a utilização de tanques de guerra, morteiros e granadas de gás e também o acesso a comunicações. Eram grandes propósitos, no entanto provocaram bastantes baixas entre os soldados.
Vi muitos soldados e amigos meus morrerem nas trincheiras e como era difícil retirar os corpos, estes permaneciam no local, que, para além da dor e desconforto que nos causavam, o seu cheiro nauseabundo, atraíam ratos e outros animais tornando cada vez piores as condições em que permanecíamos. Eram dias difíceis para quem sobrevivia ao conflito, à fome, ao frio, ao ataque de roedores e parasitas, aos ferimentos e às inúmeras privações que levaram ao desespero de muitos homens que lutavam sem saber bem o porquê. Toda a angústia e sofrimento só era levemente ultrapassados pelas lembranças que tínhamos guardadas connosco, ora uma carta da nossa mãe, ou o lenço da nossa namorada, davam-nos alento, bem como o crucifixo junto ao peito fazia com que nunca perdêssemos a fé, acreditando que um dia tudo chegaria ao fim e assim poderíamos voltar para junto dos nossos familiares sãos e salvos.
Porém a guerra tornou-se cada vez mais impopular entre os portugueses, originando vários tumultos na sociedade civil e foi no início de 1918 que os soldados portugueses viveram dias de horror, sofrendo inúmeras baixas na frente de guerra na Flandres, devido à inesperada ofensiva das tropas alemãs, que nos levou quase ao total desaparecimento. Era o princípio do fim da guerra para os portugueses.
Só em novembro de 1918 é que se conheceu o desfecho desta Grande Guerra com a vitória dos Aliados e o fim dos impérios Alemão, Otomano, Austro-húngaro e Russo, bem como com o surgimento de novos países na europa. O fim da 1.ª Guerra Mundial contribuiu para a criação da Sociedade de Nações, com o objetivo de evitar que uma guerra tão destrutiva voltasse acontecer. No entanto…