Andrey, o penúltimo testemunho da Minissérie A Revolução Russa vista por um… [7]

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A revolução russa vista por um camponês

Olá! O meu nome é Andrey e sou um camponês russo. Nasci a 22 de janeiro de 1905, uma época de mal estar para nós os camponeses. Eu nasci enquanto a minha mãe estava numa manifestação, em S. Petersburgo, onde milhares de pessoas empobrecidas e desesperadas pediam pão e trabalho.

Anos mais tarde, em 1912, a minha mãe disse-me que eu fora um guerreiro quando nasci, pois nasci sobre disparos que mataram milhares de pessoas russas. Como eu fiquei curioso e não sabia a razão desses disparos, perguntei à minha mãe o que aconteceu. A minha mãe explicou-me que no ano em que nasci já se vivia muito mal, pois os russos viviam numa sociedade extremamente hierarquizada, onde a nobreza e o clero eram os grupos privilegiados e os principais proprietários das terras e nós, camponeses, vivíamos com duras condições de trabalho e impostos sobrecarregados. Os operários também vivam miseravelmente como nós, pois estavam sujeitos a muitas horas de trabalho e os salários eram baixos. A nossa política era um regime absolutista (todos os poderes concentram-se no Czar), onde o Czar era apoiado pelo exército, polícia e a Igreja Ortodoxa.

Economicamente, o nosso país estava muito mal, porque a economia era baseada na agricultura com métodos rudimentares e a indústria era pouco desenvolvida, baseada em capitais estrangeiros, concentrada em S. Petersburgo e Moscovo. Então, movidos pelas revindicações, como melhores condições de vida, o fim da censura, entre outros, as pessoas empobrecidas fizeram uma manifestação e a minha família decidiu juntar-se. Sentindo-se ameaçado o nosso Czar Nicolau II abriu fogo sobre a multidão, matando milhares de pessoas. Esse acontecimento ficou conhecido como “Domingo Sangrento” e foi no dia do meu nascimento. A minha mãe diz que se lembra disso como se tivesse sido ontem e relembra-se constantemente do medo que sentiu durante o meu parto, com receio de eu levar um tiro. Com esse acontecimento o Czar perdeu a confiança dos russos, incluindo da minha família. Então, para acalmar a população, criou um parlamento (a Duma) com pessoas da sua confiança, deu liberdade à criação de partidos políticos, mas logo lhe foi retirada após críticas ao seu poder e prometeu a criação de uma Constituição, mas ele nunca a fez.

Dois anos depois da minha mãe explicar-me o que aconteceu no Domingo Sangrento, a Rússia entrou na Primeira Guerra Mundial e o meu pai foi chamado para defender o país. Eu e a minha mãe ficamos devastados e com medo de que o meu pai morresse na guerra. Mas, um ano depois, em 1915 o meu pai fugiu da guerra e voltou para casa. Ele contou-me que o exército estava muito mal organizado, esfomeado, e muitas vezes reconhecedor da derrota.  O meu pai disse também, que ele fora mandado combater na frente ocidental da Rússia. O meu pai reparou que a parte onde ele estava a combater estava ocupada pelos inimigos e houve muitos soldados que foram presos e feridos e o meu pai salvou-se da morte por um triz. Esta guerra trouxe muitos agravamentos das condições de vida para a população, tais como a falta de alimentos e os impostos aumentaram. Os meus pais ficaram desesperados, pois não tinham como pagar os impostos.

Aproveitando a fragilidade das forças no poder e a insatisfação popular os opositores de Nicolau II, iniciaram uma revolta, dando-se assim a Revolução Burguesa ou  a Revolução de Fevereiro de 1917. Esta revolução resultou na abdicação do Czar, formando-se um governo provisório de inspiração burguesa, liderado por Kerensky. Na minha perspetiva, o seu governo trouxe vários aspetos negativos, pois decidiu manter a Rússia na Primeira Guerra Mundial e deu amnistia aos presos políticos e aos exilados políticos e ia influenciar maioritariamente a burguesia. Por outro lado, tinha um aspeto positivo, pois defendia a propriedade privada e a minha família tinha uma pequena área privada, onde produzia para nosso consumo próprio.

Descontente com a decisões de Kerensky, Lenine apoiado por Trostky organizou os sovietes, grupos constituídos por soldados, operários e camponeses e o meu pai pertencia a um desses grupos. Lenine prometeu «Paz, pão e terra» e em outubro de 1917 organizou uma revolução, ficando conhecida como a Revolução Bolchevique. Com esta revolução, Lenine conseguiu subir ao poder e prometeu uma sociedade sem classes. O governo de Lenine, a meu ver trouxe alguns aspetos negativos, como o de que toda a produção agrícola iria pertencer ao Estado, menos a que se destinasse a consumo próprio, tirando assim o pouco de lucro que a minha família recebia. Mas, acima de tudo, Lenine defendia a Ditadura do Proletariado, onde o poder se iria encontrar nas mãos dos trabalhadores, logo era mais um aspeto positivo atribuído ao governo de Lenine. Lenine também favoreceu os camponeses, incluindo a minha família, pois passou o controlo dos campos e outros meios de produção para nós.

Os burgueses e mais alguns setores conservadores, inconformados com a perda dos seus bens, iniciaram um processo contrarrevolucionário, com a ajuda da França, os EUA e o Reino Unido, pois estes receavam que estas ideias revolucionárias se espalhassem. Com este movimento, iniciou-se em 1918 uma guerra civil, onde havia dois grupos, os russos brancos (defensores do Antigo Regime) e os russos vermelhos (defensores da revolução socialista). O meu pai como participante dos sovietes ficou do lado dos russos vermelhos e em 1919 acabou por morrer na guerra. Eu e a minha mãe ficamos muito tristes e como estávamos num período de guerra não nos despedimos do meu pai com a devida dignidade que ele merecia. Esta guerra civil trouxe muitas complicações e a revolução socialista radicalizou-se adotando medidas que ficaram conhecidas como comunismo de guerra. O comunismo de guerra foi muito mau, pois houve estabelecimento da censura retirando liberdade de expressão. Devido à guerra também houve uma queda dramática da produção agrícola tirando assim a única fonte de rendimento que eu e a minha mãe tínhamos.

A guerra civil terminou em 1920, com a vitória dos russos vermelhos, mas a Rússia devido ao comunismo de guerra caiu na miséria e eu juntamente com a minha mãe e o meu vizinho Nikolai ficamos descontente com a radicalização da revolução socialista, tal como a maioria da população. Lenine vendo o nosso descontentamento alterou a sua estratégia, criando a NEP, onde algumas medidas foram estabelecer alguma liberdade de comércio e pequenas unidades privadas de produção agrícola, fazendo com que eu e a minha mãe e o resto dos camponeses voltassem a ter um pouco do rendimento que tinham antes.

A doutrina política comunista, na minha opinião é boa, pois o comunismo baseia-se numa sociedade sem classes e para nós camponeses isso e ótimo, pois sem a diferença de classes íamos deixar de ser mal tratados e humilhados. Apesar das medidas da NEP terem dificultado a implementação de uma sociedade sem classes, em 1922 com a URSS o marxismo-leninismo trinfou, assustando o mundo com a sociedade sem classes.

Infelizmente, eu vivi num tempo muito mau para mim na Rússia, mas todas estas guerras e a perda do meu pai fizeram-me crescer, ganhar maturidade e tornar-me o homem que sou hoje, com a minha mulher e as minhas duas filhas.


Jéssica Vieira  N°10 9° D

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