Sou um escravo e trabalho de sol a sol, com a pele arder e as mãos calejadas. O peso das correntes lembram-me que o meu corpo já não me pertence, e meus sonhos perderam-se entre os açoites e o pó da terra.
A necessidade de mão de obra deu origem à escravatura entre os continentes Africano e Americano. Eu, escravo africano, com a marca do meu dono cravada a ferro quente no meu ombro direito, não esquecerei nunca a dor intensa do momento em que fizeram de mim um ser privado de liberdade.
Nasci do outro lado do oceano Atlântico e hoje o meu dia a dia é passado entre o canavial e o engenho de açúcar, no Brasil. Sou pau para toda a obra, obrigam-me a trabalhar de manhã até à noite quase ininterruptamente, sou mal alimentado, ando mal vestido e não sou amado. Tratam-me como um animal cuja força deve ser explorada até ao limite.
Anseio pela noite, noites curtas e silenciosas partilhadas, na sanzala, por várias dezenas de seres na mesma condição… Às vezes fecho os olhos e lembro-me dos meus dias de menino livre e sem preocupações, na animada savana africana. Nesses momentos lembro-me de como era ter liberdade, uma palavra que parece tão distante quanto o céu que vejo acima de mim. No meu peito, ainda carrego uma esperança escondida: Voltar a ser LIVRE!
Afonso