Como devemos proceder perante uma ameaça de sismo?[3]

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Eu era apenas uma adolescente do povo, com medos, dificuldades e uma vida muito difícil… Bom, pelo menos eu pensava assim. Depois de um longo dia de trabalho, eu e o resto da minha família fomos para a praça ver o espetáculo dos “animadores” que lá iam de vez em quando.

É assim que começa um dos últimos textos desta magnífica série sobre o Terramoto de 1755 visto pela população de Lisboa. Hoje ficamos com o texto da Clara Pinto do 8C.

 

O TERRAMOTO DE 1755 VIVIDO POR UMA JOVEM MENINA
Eu era apenas uma adolescente do povo, com medos, dificuldades e uma vida
muito difícil… Bom, pelo menos eu pensava assim. Depois de um longo dia de trabalho,
eu e o resto da minha família fomos para a praça ver o espetáculo dos “animadores”
que lá iam de vez em quando. Era um momento de convívio divertido para nos
encontrarmos com os nossos amigos e familiares distantes…
Finalmente, no dia seguinte, chegara o dia 1 de Novembro, Dia de Todos os
Santos, o mais esperado dia para nós, pessoas religiosas; a alvorada era perto das 5 da
manhã, quando se ouvia o galo a cantar. Os meus pais eram feirantes, por isso nos
levantamos tão cedo; eu ia com eles e com os meus irmãos para ver se conseguíamos
arranjar dinheiro a vender algumas galinhas e outros animais, e logo depois seguíamos
para a igreja. No entanto, estranhamente, todos aqueles animais estavam muito
agitados, como se o diabo estivesse dentro deles, mas nós não ligamos muito.
Depois de tanto tempo a tentar vender quase tudo o que tínhamos, fui dar um
passeio, mas não foi um passeio qualquer. O Agostinho e eu tínhamos uma grande
paixoneta um no outro e, quando ele me pediu para ir conversar com ele, nem imaginam
a alegria que eu senti, e toda a gente notou, pois os meus irmãos e muitos dos aldeões
começaram a brincar connosco. Eu ainda me lembro como ele estava nervoso para me
dizer como gostava de mim, mas como sempre o meu pai interrompeu-nos dizendo para
irmos para a igreja. E o que se podia fazer?!? Quando um pai chama temos de ir, e eu e
o Agostinho deixamos o nosso assunto pendente.
Chegamos à Igreja, e como é de esperar, começamos a orar e a afastar as más
energias, mas depois de mais ou menos 40 minutos os sinos começam a tocar sozinhos
e todos os animais ficam mais agitados e aflitos do que já estavam. Do nada os santos
começam a cair e as paredes, o teto, tudo desabava sobre nós e já não há mais nada a
fazer; acontecia um grande terramoto como nunca pensamos que pudesse ocorrer; os
meus irmãos mais velhos gritavam para começarmos a sair dali, eu peguei no meu
irmãozinho e começo a correr… A minha pior memória foi ver os pais de todos aqueles
que eram meus amigos a pedirem socorro ou até a dizerem “eu amo-te” para a família
deles como despedida. Todos os poucos que conseguiram livrar-se daquele horrível acontecimento
foram para uma zona ao ar livre, o Terreiro do Paço, o que nos pareceu muito inteligente
da nossa parte, e quando chegamos lá eu vi todas as nossas igrejas e casas a arderem,
vi pessoas a rebolarem no chão com esperança de não morrer queimadas. Contudo,
quando pensávamos que estávamos a salvo, foi quando vimos toda a água do rio Tejo a
recuar como se também se quisesse afastar da catástrofe que estava a acontecer, mas….
cerca de 30 minutos depois, lá de longe observamos toda aquela água a vir de novo com
toda a força do mundo, e na altura só me ocorreu fugir, mas muita gente ficou lá a tentar
perceber o que estava a acontecer. Eu tentei fugir para um sítio alto, onde toda aquela
água não me conseguisse atingir nem a mim nem à minha família, mas não foi bem
assim: um dos meus irmãos mais velhos era muito bondoso e tinha coração mole e
quando viu a sua amada e a família dela em apuros nem lhe ocorreu outra coisa senão
ajudá-los; então ele disse que se juntaria à nossa família pouco tempo depois e que
também levaria a família dela. Não sei como nós conseguimos concordar com isso, mas
foi o que aconteceu. A água invadiu toda a nossa terra, toda a minha fé tinha
desaparecido quando vi tudo aquilo a acontecer.
Mas mesmo depois de tudo isso só me conseguia lembrar de uma coisa – o
Agostinho, eu nunca mais o tinha visto, eu não sei se ele está bem, se está mal, se está
a sofrer, se precisa de ajuda, eu não sei nada, nada! Eu repetia estas palavras
continuamente para ver se alguém me ajudava a tentar perceber o que se estava a
passar. A minha mãe, como sempre, tentava ajudar-me e acalmar-me, dizendo para eu
rezar e para pedir muito a Deus para que ficasse tudo bem. Poucas crianças
sobreviveram e eu percebi que não era a única a sofrer por conta daquilo; o meu
irmãozinho também chorava desesperadamente porque, enquanto eu o carregava a sair
daquela igreja, ele viu os seus amigos a serem esmagados por todas aquelas pedras.
Depois das catástrofes a fome, as doenças e as pilhagens pairavam pela cidade,
e para combater pelo menos as doenças, as ruínas foram regadas com cal viva e os
cadáveres eram atirados para o mar ou então enterrados. Foram criados também
acampamentos improvisados para quem tinha ficado sem as casas, e os lugares que não
foram muito afetados eram obrigados a levarem, principalmente, alimentos e gado para
quem tinha ficado sem nada. Foram estabelecidos também centros de distribuição para
distribuir sopa e pão pelos moradores para combater a fome. As pilhagens eram vistas por muitos, gente sem escrúpulos, como oportunidades de enriquecer com a desgraça
alheia. Os ladrões invadiam as casas mais ricas, conventos ou até matavam os feridos
para roubar mais facilmente.
Aqui, ação do Marquês de Pombal foi decisiva: ordenou que patrulhas militares
andassem pela cidade na tentativa de evitar os roubos, ordenando que quem fosse
apanhado a roubar, iria ser enforcado pelos militares. E com este plano a criminalidade
desceu imenso. No entanto, a paz ainda não estava assegurada, pois rapidamente
apareceram “pregadores do fim do mundo”, anunciando que iriam vir mais catástrofes
causadas pela ira de Deus contra os pecados dos homens e nós, o povo, como eramos
analfabetos, acreditávamos, fazendo o pânico instalar-se nas redondezas. Nós
acreditávamos que isto tinha sido um castigo de Deus, por isso temíamos mais e
ficávamos ainda mais desnorteados e confusos. Os pregadores foram presos e
mandados para Angola. Este terramoto destruiu quase Lisboa inteira.
As catástrofes tiraram muita coisa à cidade e sem dizer as vidas que ceifaram.
Além destes prejuízos, a cidade ficou cheia de entulho e sem os recursos suficientes, a
tarefa ficou muito mais árdua; nós tínhamos de usar instrumentos simples, como pás e
a própria força, e nestes dias toda a ajuda era preciosa. A desgraça atraiu a atenção do
estrangeiro, vindo mais ajuda na reconstrução da cidade de outros locais como a
Inglaterra e Espanha.
O engenheiro-mor do reino começou imediatamente a trabalhar nos planos de
reconstrução de Lisboa. Entretanto, começaram a surgir barracas, pequeníssimas
habitações, lojas feitas em madeira ou de pedra e cal. Apareceram milhares de prédios
em seis meses. O engenheiro ofereceu três opções para a reconstrução de Lisboa e uma
delas foi remover o entulho e os edifícios em ruína e criar uma planta nova.
O Marquês de Pombal, juntamente com o rei e os arquitetos, decidiram
claramente fazer isso: encarregaram seis equipas de fazer novos projetos para a
reconstrução. A planta escolhida era um projeto moderno e inovador para a época. Mas,
tentando prevenir que outro este desastre como voltasse a acontecer, os engenheiros
pensaram em como erguer uma cidade mais segura. Nesta altura, criou-se uma
estrutura simples de madeira que era antissísmica, chamada “gaiola”; também se criou
um outro sistema que prevenia a propagação das chamas, eram muros entre os edifícios
que se chamavam “corta-fogos”. Durante o planeamento da reconstrução da cidade, certas pessoas viram isto como uma oportunidade de fazer “renascer” Lisboa.
Implantaram também um novo sistema de esgotos que era mais higiénico do que as
técnicas usadas antigamente. Apareceram novos tipos de construção, com o nome de
edifícios “pombalinos”.
Mas depois de todo este tempo eu ainda não tinha visto as duas pessoas mais
importantes para mim, até que um dia quando estava a carregar madeiras para junto
das construções eu ouvi a voz do Agostinho a chamar por mim e foi como se a minha fé
e o próprio Deus se tivesse lembrado de mim novamente; nós ficamos tão contentes
que promete nunca mais nos afastarmos um do outro. E quanto ao meu irmão, eu não
teria informações sobre ele ao longo de todo o próximo ano, não sabia se tinha morrido,
se tinha fugido ou se estava à espera do momento certo para aparecer. O que era certo
era que eu já só tinha dois irmãos, pai e mãe e realmente não me queixo! Mas depois
de os meus primos, tias e tios não terem sobrevivido, eu só queria o meu irmão de volta,
a nossa família junta de novo. E Deus ouviu os meus pedidos, mal, mas ouviu. Depois
daquele dia o meu irmão não podia ir ter connosco porque já era muito tarde então foi
para um sítio menos seguro, mas que deu para ele e a amada ficassem a salvo, mas,
enquanto ele estava a ir para lá ele lesionou-se o que fez com que não conseguisse andar
muito bem e neste ano eles os dois ficaram lá e a namorada dele ficou a cuidar dele e
assegurar que ele ficaria bem e quando ele estivesse melhor, viriam.
O nosso encontro foi maravilhoso toda a nossa família chorou e até
conseguimos emocionar todos aqueles que estavam a ver, que sonhavam um dia que
eles voltassem a encontrar-se com os familiares perdidos deles.
Clara Pinto, n.º 4, 8º

Clara Pinto

 

 

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