Quando a Igreja se encontra numa “encruzilhada” administrativa…

A divisão administrativa são fronteiras políticas resultantes de acordos mais ou menos pacíficos e longínquos. Mais estranhos e curiosos são os enclaves que provocam descontinuidades territoriais como acontece nos concelhos de Soure, Montijo, Vila Real Santo António…

Nas serranias do Gerês, freguesia de Tourém (Montalegre) temos um curioso exclave de Portugal, uma vez que se encontra separada do restante território pela albufeira espanhola (Encoro de Salas), sendo apenas acessível através de uma ponte.

A divisão dos territórios pode também levar a uma “encruzilhada” de três ou mais freguesias, sendo pretexto para encontros ocasionais de representantes religiosos nesses pontos, em tempos para tomar decisões de interesse comum. Esses espaços de acolhimento foram edificados com mesas e bancos representativos de cada paróquia.

No território sudeste de Viana do Castelo, no largo das Neves encontramos uma mesa granítica e três bancos, simbolizando a interseção das freguesias de Punhe, Mujães e Barroselas. Esta icónica estrutura do século XVII, mandada construir pelos respetivos párocos visava resolver discórdias em relação aos limites administrativos. Os compassos pascais das três freguesias encontravam-se na Mesa dos Três Abades, tradição que persiste até à atualidade.

Nas encostas do Corno do Bico, as freguesias limianas de Vilar do Monte, Calheiros, Cepões e Bárrio também têm a sua “Mesa dos Quatro Abades”. Nesta “encruzilhada”, mantém-se a tradição dos párocos reunirem-se num dia de junho para um fórum popular de discussão e resolução de assuntos de interesse da comunidade, do foro eclesiástico e do civil. A tradição perdura com a reunião dos presidentes das juntas de freguesia e seus convidados num evento anual no mês de junho.