Tranquilamente sentada, aguardando que a cor do tempo seja maquilhada pela toxicidade dos químicos, reparo que a caixa negra, outrora o passaporte para a descoberta de mundos e culturas diferentes, atualmente programada para atrofiar a nossa capacidade de seres pensantes, partilha uma desgraça alheia e por entre a violação repetida da nossa língua, leio em rodapé: “Esteve entre a vida e a morte.”
…. Entre a vida e a morte… Entre a vida e a morte?? Entre a terra e o céu … Entre o doce e o amargo… Entre ser e estar…
Vivemos o limbo na sua consistência e quotidianidade. Diariamente vivemos no entre. Lutamos mecânica ou involuntariamente no pré e no pós quando o clímax é uno, entre o calor e o frio na sequência irremediável da vida e da morte.
Sendo estas duas variáveis exatas e incontornáveis da nossa essência, irremediavelmente síncronas, embora visivelmente distintas, o dia e a noite são inseparáveis e, numa perfeita ilusão de luz e breu, o crepúsculo veste a roupagem da luminosidade e da escuridão completa.
Quem somos nós senão meros peões no tabuleiro de xadrez onde o branco e o preto se confrontam até um deles ser engolido pela força oposta? Mas……nesta luta diária, cronometrada segundo a segundo, a vida pode até fintar a morte, mas esta, perdendo uma batalha, jamais perde a guerra. Entre a vida e a morte…..
Cristina da Mota