Finais de maio.
A escola é convidada, pela Câmara Municipal, a participar na comemoração do dia mundial da criança, que também servirá para a divulgação da prática do atletismo.
Por falta de condições, pois a escola funcionava em salas pré-fabricadas e não existiam balneários nem qualquer espaço livre no exterior, a disciplina de Educação Física não era lecionada.
Quando souberam da notícia, os miúdos ficaram eufóricos. A possibilidade de irem de autocarro a Ponte de Lima era uma oportunidade que tinha de ser aproveitada e isto fazia com que a grande maioria quisesse participar.
O Conselho Pedagógico, face a tanto entusiasmo, por unanimidade, decidiu que, apesar de os alunos não terem Educação Física, se deveria participar.
Na ausência de um professor de Educação Física, um professor ligado ao desporto ficou responsável por coordenar a participação dos alunos no evento. Foi feito um levantamento para apurar quem estava interessado em participar e poucos eram aqueles que não queriam ir. No entanto, não havia lugar para todos, só estava disponível um autocarro, para um máximo de 42 alunos. Este facto foi comunicado aos responsáveis da Câmara Municipal, no sentido de tentar que ninguém ficasse de fora.
O vereador da educação e o senhor presidente da câmara, apesar de reconhecerem que todos deviam participar, disseram que não era possível atender ao solicitado, pois não tinham disponibilidade financeira para alugar mais autocarros.
Perante as circunstâncias, fez-se uma reunião com os alunos, explicou-se o que se estava a suceder e, para não dar tempo a discussões sobre a forma de seleção dos participante, o professor acrescentou:
– Tenho uma proposta a fazer. Como não acho justo selecionar um aluno em detrimento de outro, divido 42, pelo número de turmas e, como resultado, obtenho o número de alunos de cada turma que podem ir. Depois, em cada turma, faz-se um sorteio entre os alunos interessados em participar.
Alvoroço total. Todos querem dar opinião.
– Calma. Muita calma. Vamos lá ver quem concorda com a proposta.
Como uma mola, todos ergueram o braço a manifestarem a aprovação. Fez-se o sorteio e, por entre os gritos de alegria dos sorteados, ouvia-se os lamentos de tristeza daqueles que ficavam.
Posto isto, os alunos contemplados foram avisados a respeito do material que teriam de levar para poderem participar na prova de atletismo: calção, camisola, sapatilhas, toalha, sabonete…
Chegou o dia. A viagem para Ponte de Lima parece que foi rápida, devido à alegria dos participantes.
Está prestes a chegar a hora das provas. Os alunos são avisados para se prepararem. Todos se despacham menos duas alunas, as irmãs gémeas, que começam a chorar:
– Professor, nós não tínhamos calções, nem sapatilhas.
– Por que não me contaram isso?
– Não dissemos nada porque, se tivéssemos contado, receávamos que não poderíamos vir! – disseram sufocadas pelo choro.
– Vou tentar arranjar os equipamentos em falta – disse o professor responsável.
A tentativa não resultou e, quando as meninas são avisadas de que não tinham equipamento, choram ainda mais.
– Professor, peça para nos deixarem correr assim vestidas, depois tomamos banho em casa. – Suplicam.
– Meninas, vocês não podem correr assim vestidas… calças, camisolas… e com essas botas de pneu!
– Professor, nós estamos habituadas a correr com estas botas. Temos de andar com as cabras e quando elas fogem temos de correr atrás delas. Peça para nos deixarem correr, que não se vai arrepender – suplicam uma vez mais.
Face à insistência, o professor responsável falou com a organização da prova.
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