Eu nasci para ser esquecida. A história de uma escrava.

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Eu nasci para ser esquecida, para ser parte de um sistema que me via apenas como uma propriedade, sem nome, sem história.

A minha infância foi marcada pelo trabalho árduo, pela privação e pelo medo constante de um castigo que não entendia, mas que sabia que viria sempre que errasse, ou até mesmo sem razão. Fui arrancada da minha terra, da minha gente, das minhas raízes. Tudo o que eu conhecia foi deixado para trás numa viagem longa, escura e silenciosa, onde os corpos se amontoavam, os suspiros se misturavam com o cheiro da fome e do desespero.

As noites eram longas, os dias intermináveis. Quando finalmente cheguei, não sabia onde estava, nem quem eram as pessoas que iam moldar a minha vida dali em diante. Eu era uma coisa, uma mercadoria. O meu dono… ele era uma presença distante, mas ao mesmo tempo sempre ali, olhando para mim com um olhar que misturava indiferença com a sensação de que, para ele, eu não passava de mais um item a ser controlado, manipulando a minha vida como um lavrador manipula a terra.

Ele não me viu como uma pessoa, mas como uma ferramenta para o trabalho, para o lucro, para o que ele achava que eu deveria ser. No início, os dias pareciam não ter fim. O suor, a dor, as horas intermináveis de trabalho no campo, os gritos, as ordens, a solidão. Mas com o tempo, algo começou a mudar dentro de mim.

A dor começou a tornar-se uma parte da minha rotina, a luta diária a minha segunda natureza. Eu já não era apenas uma escrava; aos poucos, eu me tornei mais forte, mais resistente, mais determinada a sobreviver, não para ele, mas para mim mesma. Ele via-me como um ser sem alma, sem vontade, mas eu sabia que havia algo dentro de mim que ele não poderia controlar: a minha esperança, o meu desejo de liberdade, de me encontrar fora das correntes que me prendiam.

Eu via outros como eu, outros que talvez tivessem sido mais frágeis, mais facilmente quebrados pelo sofrimento. Eles desapareciam, mas eu persistia. Algo dentro de mim dizia que, de algum modo, eu iria resistir. E o meu dono? Ele seguia a sua vida. Para ele tudo isto era um ciclo. Mas, em mim, algo se formava, algo que não era visível, mas que me tornava mais forte a cada dia. Ele não sabia, mas a minha resistência silenciosa era uma forma de rebeldia, um sussurro contra a sua ideia de que eu seria eternamente submissa. Eu era mais do que ele via.

Eu era mais do que ele jamais poderia imaginar.

Bárbara 8C

Trabalho feito na disciplina de História, com orientação da professora Cristiana Silva

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