Micro contos de terror: O Coração

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É quarta-feira, sete e quarenta e seis da noite. Kaio está a trabalhar num bairro comercial, em Madrid.

De corte em corte, cada vez mais precisos, acha finalmente o fígado. Parece fascinado e um pouco nervoso. Observa cada parte do órgão, e olha em redor da sala para ter a certeza de que está sozinho. Não há ninguém além de Kaio no edifício, silencioso e pouco iluminado da Universidade de Biologia onde trabalha.  Pelo menos era o que ele achava.

A bancada onde o corpo está agora é a última da sala, longe de qualquer olhar de quem passasse pela porta entreaberta. Com o suor frio a escorrer-lhe pela testa e as mãos trémulas, Kaio mostra-se completamente obcecado por cada estrutura do corpo. Está prestes a cortar a última camada do corpo para localizar o coração. De repente, a porta da sala abre-se lentamente, refletindo a imagem de um rapaz alto, com cabelos longos e um rosto inexpressivo. 

– Desculpe-me o atraso, Kaio, não se irá repetir – diz-lhe um pouco aflito, enquanto coloca as luvas. Não costumas estar com essa cara, o que foi?
– Sem problemas, fui agilizando o trabalho, Jacob – diz Kaio, lançando-lhe um olhar assustado. Anda ver tu mesmo!

Jacob aproxima-se do corpo, e não acredita no que vê. O ambiente fica extremamente tenso por alguns segundos. Nenhum dos dois consegue acreditar no que vê. Kaio olha para Jacob. Mostra-lhe o último corte onde deveria estar o coração. O órgão simplesmente não está lá. 

– O que vamos fazer? – diz Jacob.
– Não podemos fazer nada, vamos para casa. Este não é o nosso trabalho- respondeu Kaio num tom nervoso e meio agressivo.

No dia seguinte, Kaio ainda não chegou à universidade, mesmo já estando atrasado.

- Jacob? Já estás aqui, olha que me assustaste – diz Kaio, mal refeito do susto. Jacob? – chama de novo. 

O silêncio ensurdecedor ecoava, deixando Kaio inquieto. No laboratório onde repousam os corpos, uma pequena luz está acesa. Kaio entra sem fazer barulho e vê ao canto da sala Jacob, com um pequeno bisturi nas mãos a retirar o coração de um dos corpos.  

– Não é o que estás a pensar. É só mais este e acabo, prometo – diz Jacob, olhando pela janela. Preciso de mudar os meus hábitos alimentares. 

 

Pietra 9.ºA

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