Numa rua movimentada, milhares de pessoas cruzam-se sem olhar umas para as outras e muito menos reparam no pedinte à porta de uma loja de produtos de luxo, com uma caixa de madeira ao seu lado. Quem espreitar para dentro da caixa, mais por instinto do que por curiosidade, pode ver uma coleção de fotografias amarelecidas pelo tempo. Rostos espantados.
Sempre no mesmo sítio e à mesma hora, o homem observa o rosto de quem passa, regista cada detalhe. Tira notas mentalmente, às vezes olha para as fotografias na caixa e continua à procura. Depois, arruma todas as suas coisas com cuidado e retira -se, anónimo, como se pedisse desculpa por ali estar. Subitamente, num dia em que a chuva caía forte, o seu olhar fixou-se num rosto no meio da multidão.
Decidido, levanta-se rapidamente e segue alguém, um homem novo, com cerca de trinta anos, no meio da chuva que cai agora mais intensamente, empurrando todos à sua volta. Num beco, grita:
-Para, por favor, para!
-Deve-me estar a confundir, não sou quem você pensa – responde o homem, num misto de surpresa e medo.
-És sim. Não te lembras, Guigo?
Depois de o ter envolvido com um forte abraço, o mundo parou à sua volta e mais nada interessava. Lentamente, um fio de sangue começa a escorrer pelo canto da boca do homem mais novo. Num movimento rápido, o velho retira de um dos bolsos uma máquina fotográfica instantânea. De volta ao local onde passa os dias, coloca na caixa a foto da sua última vítima. A chuva parou.
Daniela | Beatriz | Marta 7C
Microcontos de Ficção: Afinal será que te conheço? [6]
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