A Revolução Russa vista por um nobre
Eu sou D. Mikhail Dorosh, um nobre da Rússia que viveu no tempo do Czar Nicolau II, ou seja, nos séculos XIX e XX. Nesse tempo estávamos sob o regime absolutista, isto é, o Czar tinha o poder absoluto e era apoiado pelo exército, polícia e até mesmo pela Igreja Ortodoxa.
Nós, os nobres e o Clero, tínhamos muito poder, pois eramos proprietários de muitas terras, não pagávamos impostos, tínhamos uma vida luxuosa e não trabalhávamos muito. A nobreza e o clero eramos grupos muito privilegiados, contudo outros grupos como a burguesia e o povo eram muito pobres, trabalhavam excessivamente e eram muitos mais que nós, logo a nossa sociedade era muito hierarquizada.
A nossa economia não era muito boa, dado que as nossas indústrias não estavam muito desenvolvidas, uma vez que dependiam de técnicos e capitais estrangeiros. A nossa agricultura era praticada com métodos artesanais e por consequência a nossa produtividade era baixa.
Em 1898 formou-se um partido clandestino, em oposição ao Czar, o Partido Operário Social Democrata Russo, liderado por Lenine, chamados os Bolcheviques (radicais) e Mencheviques (moderados), e que defendia a proletarização da sociedade e o fim das classes sociais.
E em 1903 formou-se outro partido clandestino, igualmente contra o Czar, chamado Partido Constitucional Democrata, liderado por Kerensky e pretendia estabelecer um regime parlamentar, à semelhança da Europa Ocidental.
Eu, como nobre, defendia secretamente o Partido Constitucional Democrata de Kerensky, pois Lenine queria acabar com as classes sociais e isso iria agradar ao povo (camponeses) e aos burgueses; contudo, o meu grupo social, a nobreza e o Clero iriam sair prejudicados, dado que tínhamos de entregar muitas das nossas riquezas e terras às outras classes mais pobres, para não haver diferenças sociais.
No dia 22 de janeiro de 1905, mais conhecido como o «Domingo Sangrento», houve uma manifestação de milhares de pessoas em S. Petersburgo, a pedir melhores condições de vida ao Czar, o fim da censura e a criação de um parlamento e de uma Constituição. O Czar Nicolau II não cedeu, contudo, os manifestantes recusaram parar a manifestação, então os exércitos do Czar dispararam contra eles, causando a morte de muitos e por isso o nome «Domingo Sangrento». Eu não estive presente e nem vi esse acontecimento, porém esse acontecimento foi notícia por toda a Rússia.
Para que as pessoas não se revoltassem contra ele, o Czar fez algumas cedências, tais como: criar a Duma (um parlamento, mas só com as pessoas em quem mais confiava). Do mesmo modo, comprometeu-se a fazer uma Constituição, a qual nunca viera a ter lugar. Também deu liberdade à criação de partidos políticos, porém essa liberdade foi-lhes logo retirada, devido a críticas que recebeu dos mesmos sobre a sua governação.
Dado tudo isto, ainda havia a 1.ª Guerra Mundial, em 1914, mas o nosso exército não estava bem preparado, estava mal-organizado e passava fome, por isso era derrotado muitas vezes. Muitos dos nossos soldados morriam ou ficavam feridos ou eram feitos prisioneiros. Para acrescentar a estas desgraças todas que haviam acontecido, estávamos a perder muito território e a maior parte da Rússia Ocidental estava ocupada por tropas inimigas.
Também havia cada vez mais revoltas populares em S. Petersburgo, visto que as pessoas não tinham de comer, os preços aumentavam em tudo e existia uma taxa alta de desemprego. O Clima de tensão na Rússia era cada vez maior.
Em fevereiro de 1917, o Czar dissolveu a Duma, e acusou os deputados de corrupção. Ocorreram greves e revoltas em S. Petersburgo. Um desses acontecimentos foi a Revolução Burguesa, a Revolução foi feita pelos que apoiavam o governo liberal provisório de Kerensky, incluído o meu grupo social. Devido a essas revoltas, o Czar tinha mandado as suas tropas atacar a população revoltosa, mas estes tinham-se colocado ao lado da população e haviam fornecido armas para os mesmos. Deste modo, o Czar Nicolau II viu-se obrigado a abdicar.
Assim, formou-se o governo provisório de inspiração burguesa liderado por Kerensky, cujos princípios ideológicos eram o liberalismo, que englobava a livre concorrência, livre propriedade e capitalismo. Tal como eu e os outros que o apoiavam queriam, pois com este governo democrático/ liberal parlamentar na Rússia, eram defendidos os direitos individuais e a propriedade privada, então não perderíamos os nossos bens, como as terras que nos pertenciam, continuávamos na Guerra mesmo se esta nos prejudicava. Assim, não mostrávamos o nosso lado fraco, mas sim o lado guerreiro e que nunca desiste. Este governo também deu amnistia aos presos políticos e aos exilados políticos.
Entretanto, em outubro de 1917, houve outra revolução, mas esta revolução era a Revolução Bolchevique, liderada por Lenine que era apoiado por Trotsky (um intelectual marxista). Eles organizaram os sovietes, isto é, um grupo constituído por operários, soldados e camponeses. Os seus princípios ideológicos eram o marxismo-leninismo, ou seja, a ditadura do proletariado para implantar o comunismo. Da mesma forma, prometeram «paz, pão e terra». Estes organizaram uma nova revolução em S. Petersburgo e prenderam os ministros do governo provisório e prometeram criar uma sociedade sem classes. E as primeiras medidas imediatas que Lenine exerceu assim que recebeu o controlo da Rússia foram: o Tratado de Brest-Litovsk, no 3 de março de 1918, e desse modo saíram da 1.ª Guerra Mundial e fizeram a paz com a Alemanha.
Como defendiam uma sociedade sem classes, acabaram com a propriedade privada, como as fábricas terras, minas e muito mais… fizeram tudo isto sem nos pagarem indeminizações, a mim que fazia parte da nobreza e ao clero, e nacionalizaram esses nossos bens. E toda a produção agrícola, menos a que era para consumo próprio, feita nas nossas antigas terras, que passaram a pertencer ao Estado. Lenine também nacionalizou a banca e o comércio externo.
Eu e os outros membros da nobreza e o clero não tínhamos posses nenhumas, porque para além de terem sido nossos rivais também tinham acabado com o nosso poder e tínhamos ficado sem as nossas terras e bens.
Como não estávamos contentes com esta nova governação, em 1918 até 1920 lutámos contra os Bolcheviques. Nós que defendíamos Kerensky e o seu anterior regime, estávamos de branco e os que defendiam Lenine e a sua Revolução Socialista estavam de vermelho. Nós os brancos pretendíamos o retorno do antigo regime e eramos apoiados pela: França, Reino Unido e EUA, visto que eles receavam que as ideias revolucionárias dos Bolcheviques se espalhassem. E os vermelhos queriam a concretização de uma sociedade comunista. Daquela maneira entrámos numa guerra civil. E os vencedores dessa guerra foram os vermelhos (comunistas).
As medidas do comunismo de guerra implementadas por Lenine consistiram: na abolição dos partidos políticos, mas não a do Partido Comunista Bolchevique, introduziram a censura, criaram a Tcheka (polícia política) e perseguiram, torturavam, matavam, e muito mais…, todos os opositores políticos. A Rússia tinha ficado um desastre.
A NEP (Nova Política Económica), permitiu-nos pequenas unidades privadas de produção agrícola e industrial, porém só podíamos ter 10 operários, deu alguma liberdade de comércio interno e foi autorizada a entrada de capitais e técnicos estrangeiros para modernizar as nossas indústrias e com isto conseguimos aumentar a produtividade.
E em 1922 foi fundada a Constituição da URSS. A política de governação de Lenine, política comunista, não nos tinha favorecido em nada, por isso estávamos muito desapontados, contrariamente aos camponeses que tinham melhorado as suas condições de vida.
Inês Amorim Ferreira 9.º B