Minissérie A Revolução Russa vista por um… [1]

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No âmbito da disciplina de História, foi proposto aos alunos do 9.º Ano, mais um trabalho de empatia histórica, desta vez sobre a Revolução Soviética. Assim, os alunos debruçaram-se sobre a implementação da ideologia comunista na Rússia, nos inícios do séc. XX.

A doutrina comunista que ainda hoje é vista por uns como um ideal político belo e perfeito e por outros como algo medonho e assustador. Deste modo, os alunos tinham de elaborar uma composição onde o desenrolar da revolução é descrito por: hipótese A – um camponês; hipótese B – um operário; hipótese C – um nobre; hipótese D – um capitalista russo.

Outros aspetos que deviam considerar na composição:

– Título: «A Revolução Russa vista por um …?!»

– Caraterizar a Rússia no tempo do czar Nicolau II até 1905 «Domingo sangrento».

– Referir o agravamento das condições de vida durante a 1.ª Guerra Mundial;

– Salientar, de acordo com o ponto de vista da personagem escolhida, os aspetos positivos / negativos da revolução e as consequências políticas e sociais que ocorreram em fevereiro e depois em outubro de 1917.

– Referir a visão da personagem sobre o período da guerra civil e estabelecer ligação com a NEP (Nova Política Económica).

– Concluir com uma análise à doutrina política comunista de acordo com o ponto de vista da personagem.

– A composição devia ter rigor histórico (científico), imaginação e criatividade.

Com este exercício, pretende-se dar aos alunos uma visão político/social abrangente para que se tornem cidadãos esclarecidos e um dia possam exercer os seus direitos de cidadania em consciência e completa liberdade.

 

Hoje ficamos com o primeiro trabalho de uma série de oito. É do Manuel do 9A.


Família real da Rússia. Assassinados pelos bolcheviques durante a guerra civil – 1918.

 

A Revolução Russa vista por um…Camponês

 

Era uma tarde de domingo, um dia frio e chuvoso. Encontrava-me reunido com os meus netos, na sala, junto à lareira, quando um deles pergunta onde estava eu durante a Revolução Russa. Tal questão deu origem à partilha dos anos que vivi durante a mesma…

– Naquela época, o regime político da Rússia era o absolutismo, onde o Czar Nicolau II tinha todos os poderes concentrados em si…- estava eu a explicar, quando fui interrompido…

– E quem foi o Czar Nicolau II, avô? – perguntou o Yuri.

– Nicolau II foi o último Imperador da Rússia, também conhecido como São Nicolau, o Portador da Paixão, assim designado pela Igreja Ortodoxa Russa. Oficialmente, era chamado Nicolau II. – respondi.

– A sociedade estava hierarquizada, onde a nobreza e clero eram os grupos privilegiados, donos e senhores de grandes terras onde eu e o resto dos camponeses tínhamos oportunidade de desenvolver a atividade agrícola. A economia estava muito pouco desenvolvida comparada com a Europa Ocidental, havia pouca produtividade, porque a indústria estava pouco desenvolvida e dependia de técnicos estrangeiros… – dizia eu até que fui novamente interrompido.

– Avô, e quando chega aquele tal domingo sangrento? – perguntou o Dimitri.

– É agora netinho, tem calma que temos tempo para tudo. – disse eu.

– Pelos motivos que falei, deu-se a Revolução de 1905, que ficou conhecida como «Domingo Sangrento». Essa revolução foi uma manifestação pacífica, em que eu e o resto da população só queríamos uma vida melhor, o fim da censura e a criação de um Parlamento e de uma Constituição. Mas fomos recebidos a tiro em frente do palácio do Czar. Por milagre que eu não morri, apesar de ter sido atingido no braço.

– Avô, o que te aconteceu? – questiona o Dimitri.

– Felizmente, o tiro acertou-me de raspão no braço, foi como se tivesse sido arranhado.

– E porque ficou conhecido esse dia como “Domingo Sangrento”? – perguntou o Yuri.

– Porque o chão estava coberto de neve e como morreram centenas de pessoas a neve ficou com tons avermelhada. O cenário era assustador! – expliquei.

– Agora entendi. – disse o Yuri.

– Continuando, a partir desse dia a população começou a odiar Nicolau II. Este para desfazer o que tinha feito, na tentativa de acalmar a população, criou um parlamento chamado de Duma, mas esse parlamento era constituído apenas por pessoas da sua confiança, que mais tarde se veio a perceber que esse mesmo parlamento não tinha poderes nenhuns.

Ele prometeu criar uma Constituição, mas nunca o fez. Deu liberdade à criação de partidos políticos, mas logo foi retirada. Após várias críticas à forma como o país estava a ser governado deu-se uma greve geral e, posteriormente, formaram- se partidos políticos clandestinos. Surgiu assim o partido operário Social Democrata Russo, composto pelos Bolcheviques e os Mencheviques, que eram liderados por Lenine. Este pretendia concretizar uma ideia já anteriormente defendida por Karl Marx, que era a de criar uma sociedade sem classes.

O outro partido clandestino, era o partido Constitucional Democrata, liderado por Kerensky que pretendia instaurar um regime parlamentar, semelhante ao da Europa Ocidental.  Apesar de todos estes acontecimentos e instabilidade política, eis que surge mais um acontecimento histórico muito importante, que foi a 1.ª Guerra Mundial, em que a Rússia participou em auxílio dos seus aliados. Nessa altura a Rússia tinha um exército muito grande, porém mal-organizado e conhecedor de várias derrotas, para além da fome que passavam.

Como tal, muitos dos soldados foram feitos prisioneiros, mortos e alguns ficaram feridos. Grande parte da Rússia Ocidental foi ocupada pela Alemanha, que era uma força inimiga, o que conduziu à escassez de alimentos, aumento do custo dos produtos, aumento dos impostos, o que fez com que nós passássemos fome. Tais condições levaram – me, a mim e ao povo, a revoltarmo-nos se contra as condições precárias em que vivíamos, que tiveram lugar em S. Petersburgo, em que pedíamos pão. Foi uma altura muito difícil, porque queríamos comer e não tínhamos sequer um pedaço de pão para comer. Eu passei alguns dias só alimentado a água e senti-me muito fraco.

Os meus pais, vossos bisavós, muitas vezes deixavam de comer a sopa, sopa esta que era feita de água e pedaços de couve já meias desfeitas. Hoje, nós deitamos fora esses pedaços, mas digo-vos que foi um tempo de miséria, mas valorizávamos a comida, ao contrário do que se passa atualmente. Aproveito para vos dizer que não devem deitar a comida fora.

Era um clima de tensão e medo, o número de greves e manifestações aumentaram. Depois de todo este descontentamento, o Czar, resolveu dissolver a Duma, acusando os deputados de corrupção.

Mas, as tantas greves e revoltas que nós fazíamos, levaram a que Nicolau II mandasse o exército disparar sobre nós. Todavia, os soldados juntaram- se ao nosso lado fornecendo-nos armas. E é assim que se deu o golpe de Estado em que o Czar foi obrigado a abdicar do trono, (mais tarde ele e toda a sua família foram assassinados, um momento triste…).

Tal situação fez com que se formasse um governo provisório liderado por Kerensky e, desta forma, instituiu- se um governo democrático/liberal parlamentar na Rússia. Este defendia os direitos individuais e a propriedade privada, em que as classes privilegiadas eram a nobreza e o clero, porque eram proprietárias das terras e nós, elementos do povo eramos obrigados a cultivá-las sem receber nada em troca. Outra decisão errada foi a de manter os soldados Russos a combater na 1.ª Guerra Mundial.

Lenine, que se havia ausentado da Rússia (fugiu às perseguições do czar), depois destes acontecimentos resolveu regressar e assim se deu a revolução de outubro de 1917, Revolução dos Bolcheviques. Lenine era apoiado por Trotsky e organizou grupos de pessoas, designados de sovietes, que eram constituídos por soldados, operários e camponeses. A frase que eles usavam como manifestação do seu ideal era «Paz, pão, terra». A revolução liderada por Lenine, ocorreu em S. Petersburgo, onde os ministros do governo provisório foram feitos prisioneiros e prometeu criar uma sociedade sem classes.

Depois da queda da Duma, as medidas tomadas por Lenine foram:

a paz imediata com a Alemanha com a assinatura do tratado de Best-Litovsk, a saída da guerra, o fim da propriedade privada, como terras que foram distribuídas entre nós…

Tudo isto foi nacionalizado sem o pagamento de indemnizações aos seus proprietários, toda a produção agrícola pertencia ao Estado, exceto a que fosse para nosso consumo, nacionalizou a banca e o comércio externo. Como era impossível uma sociedade sem classes, houve uma Guerra Civil, que foi um conflito armado múltiplo, envolvendo o novo governo bolchevique, que já estava no poder desde a Revolução de Outubro de 1917, e os seus opositores, os conservadores e liberais que apoiavam a monarquia, além de grupos ligados à Igreja Ortodoxa Russa e as correntes socialistas minoritárias (mencheviques).

A guerra civil durou até 1923, embora a maior parte dos combatentes já tivessem reconhecido a vitória dos bolcheviques. Lenine tomou algumas medidas que fez com que a sociedade de sonho que ele tinha, a sociedade sem classes, fosse diferente.

Promoveu a abolição dos partidos políticos, à exceção do partido comunista Bolchevique, estabeleceu a censura, criou uma polícia política, chamada Tcheka.

Eu acho que a guerra civil não era precisa, podia ter sido resolvido tudo isso numa reunião, mas a ganância pelo poder às vezes não nos deixa ver as coisas com clareza.  Por causa disso a Rússia voltou a cair na miséria. Então houve a criação da N.E.P ou Nova Política Económica e foram tomadas novas medidas, onde foram permitidas pequenas unidades agrícolas e industriais (10 operários), foi estabelecida alguma liberdade de comércio interno e foi permitida a entrada de capitais estrangeiros para modernizar a indústria e aumentar a produtividade e, em 1922 criou-se a constituição da URSS. – E foi isto o que aconteceu durante a revolução russa.

Foram tempos difíceis, de muita fome e miséria, mas a política de Lenine devia ter sido logo instaurada, pois ele olhou para o povo e defendeu-nos, porque nos cedeu terras para podermos ter condições para retirar delas o nosso próprio sustento. Foi uma pena ter havido tantas mortes e ainda para mais de pessoas inocentes.

-Têm alguma questão?

– Não, gostamos muito, avô. -Disseram eles em coro.

– Vamos terminar por aqui, outro dia posso contar outros episódios. Agora são horas de jantar, já se fazem horas!

 

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