O vinhateiro fascista de Veneza
O meu nome é Pietro Carbone, tenho 28 anos, sou um dos mais ricos produtores de vinho de Veneza, graças à herança do meu pai. Mas eu acho que não a conseguirei mantê-la.
Depois de voltar da guerra continuei o que meu pai não acabou e tomei o negócio da nossa família, mas está tudo um desastre: os trabalhadores recusam-se a trabalhar e exigem dinheiro que eu não tenho. Estou genuinamente assustado pelo futuro desta vinha e da minha família. “Será que me matam? Ou à minha família?” Isto é tudo culpa daqueles russos comunistas, senão fossem eles isto não acontecia, ainda por cima depois da guerra, está tudo um desastre, a economia, o exército, até a política, mas… tudo mudou quando apareceu o Duce…
Em 1921 um homem, Mussolini, criou um partido de extrema-direita: Partido Nacional Fascista Italiano que tinha objetivos opostos aos comunistas e aos liberais.
– Ideologia oficial: onde houvesse apenas um Partido político, o que é fantástico já que o parlamento não faz nada;
– O Totalitarismo: onde, toda a gente tem de dar tudo ao Estado, nada para fora dele e nunca contra ele. Assim, não há desordem o que, em tempos assim, é o que nos falta menos;
– O Ultranacionalismo: para nos mantermos unidos contra qualquer ameaça e, finalmente, mostrarmos ao resto do mundo que somos os melhores;
– O Culto da Personalidade: culto ao chefe do Estado e à sua autoridade; agora todos pensámos da mesma forma e tudo será mais fácil, mais estabilidade no país, mais produção, mais tudo…;
– Militarismo: o mais nobre dos princípios; agora somos forçados a seguir o Duce cegamente com a ajuda dos “camisas negras”, basicamente um reforço da sua imagem de Deus;
– Educação da Juventude: a ensinar os jovens desde cedo para se tornarem pessoas completamente perfeitas; o futuro duma Itália perfeita está nas pessoas;
– Imperialismo: a ocupação de países inferiores que só ocupam espaço e não nos deixam fazer o Império perfeito da Itália;
– Corporativismo: o que salvou a minha vida; pretende-se uma mediação entre os meus interesses e os dos meus trabalhadores para garantir a harmonia social.
Eu estou completamente de acordo com o que este homem tem para dizer. Então, em 1922, quando eu soube que um pequeno lugar no Parlamento não lhe chegava e que ia tomar o Estado à força, juntei-me ao seu “exército”. Eu tenho de proteger o que é meu e, o que este homem queria era isso mesmo, para mim e para todos os outros homens que têm o mesmo problema que eu. Quando chegámos a Roma eu estava com medo de ser morto num confronto direto, mas conseguimos chegar a um consenso e Mussolini forma um Governo, o primeiro passo da glória.
Mais tarde, ele criou uma milícia voluntária para a Segurança Nacional ou como ficaram conhecidos: “os camisas negras”, e com a ajuda deles e de algumas “vantagens”, Mussolini ganhou dois terços do parlamento e formou uma polícia política juntamente com a proibição de todos os partidos não fascistas para não haver ideias contrárias a circular.
Tudo acontece muito depressa e quando dou por mim, os meus filhos estão nos Balilas, uma organização juvenil onde até o meu filho pode me deixar orgulhoso ao servir o Duce. E uma coisa fantástica para o negócio: não haver mais greves. O Duce é mesmo incrível, mesmo depois de subir ao poder, ele ainda nos agradece por ajudá-lo. É verdade que nós não fomos os únicos a ajudá-lo, a sua máquina de propaganda é mesmo muito bem montada, é impossível passar pela rua sem ser relembrado do quão poderoso e generoso ele é.
A Etiópia foi ocupada 10 anos depois do Duce aparecer para nos dar milagres. Eu ainda não acredito que estivemos à beira de desmoronar e agora somos, mais uma vez, os mais poderosos do mundo, como o Duce está sempre a dizer. Por fim, eu estou feliz por poder ver os meus filhos crescer, por baixo do regime desse homem e agora, posso morrer feliz.
Ricardo Alves 9.ºC