Mais um excelente artigo da Farmácia Moderna. Desta vez, sobre Pediculose, algo de que já quase todos sofremos quando éramos mais pequenos. Curioso? Lê o texto aqui.
A pediculose é uma infestação pelo piolho da cabeça ou do corpo humano, Pediculus humanus, cujas subespécies são Pediculus humanus capitis e Pediculus humanus corporis, respetivamente. Eles são insetos parasitas, cujo hospedeiro conhecido é apenas o ser humano e sobrevivem alimentando-se do seu sangue.
Trata-se de uma parasitose endémica a nível mundial e afeta pessoas de todas as idades e estratos sociais. Contudo, as crianças são os alvos preferenciais, principalmente as raparigas entre os 5 e os 11 anos de idade, devido ao maior contacto na comunidade escolar. Nas crianças destas idades a prevalência de infeção pode atingir os 25%.
Ao contrário do que é crença comum, o piolho não salta nem voa, pelo que a infestação resulta fundamentalmente do contacto direto. No entanto, a transmissão indireta também é comum, através da partilha de objetos de uso pessoal, como chapéus, pentes e adereços de cabelo, o que explica os frequentes surtos em escolas e infantários, sobretudo entre crianças do sexo feminino.
Apesar do piolho da cabeça não ser reconhecido como vetor de doenças, a infestação pode predispor a sobreinfeção bacteriana das áreas envolvidas. Os piolhos encontrados em cada área do corpo são diferentes uns dos outros. De notar ainda que, tal como o piolho da cabeça, o piolho do corpo é cosmopolita, no entanto as suas infestações são menos comuns e geralmente surgem em ambientes de pobreza, de guerra ou em sem-abrigo.
O ciclo de vida do piolho da cabeça tem três fases: ovo, ninfa e adulto. Uma vez na cabeça humana, o piolho escolhe determinados locais mais propícios ao seu desenvolvimento, nomeadamente a região occipital e atrás das orelhas, cujas condições de temperatura e humidade lhe são mais favoráveis. O piolho vive em média 30 dias na cabeça de uma pessoa.
O piolho adulto tem três pares de patas com garras. As fêmeas são geralmente maiores que os machos e podem pôr até 8 ovos (lêndeas) por dia. Para viver, os piolhos adultos precisam de se alimentar de sangue várias vezes ao dia, sendo que sobrevivem apenas 1 a 2 dias fora do couro cabeludo, morrendo por desidratação. O piolho da cabeça, quando adulto, deposita lêndeas na haste do cabelo, muito próximo do couro cabeludo. Têm uma forma ovalada e cor branco-amarelada. A eclosão das ninfas ocorre uma semana (6-10 dias) após a colocação das lêndeas, sendo que o casulo continua ligado ao cabelo.
É importante realizar uma inspeção à cabeça do doente para identificar a presença de piolhos e/ou lêndeas. No entanto, o facto de estarem presentes lêndeas pode não significar uma infestação ativa. Isto porque, como o cabelo cresce cerca de 1 cm por mês, as lêndeas que estejam localizadas nas hastes do cabelo a mais de 1 cm do couro cabeludo são consideradas inviáveis, pois já não contêm o embrião.
A infestação por piolhos da cabeça pode ser assintomática. Quando não o é, manifesta-se por prurido, sintomatologia resultante de uma reação alérgica à saliva do piolho que é libertada durante a sua alimentação. O desconforto físico provocado pelo prurido é causa frequente de desatenção, distúrbios do sono, linfoadenopatia, escoriações e infeção bacteriana secundária (impetigo) do couro cabeludo.
O principal modo de transmissão de piolhos é o contacto com uma pessoa que já esteja infestada, ou seja, o contacto direto. Assim sendo, uma boa forma de prevenir e controlar a sua propagação será evitar o contacto direto entre cabeças. Contudo, o contágio pelo contacto indireto também é possível, devendo adotar-se outro tipo de medidas, como: não partilhar chapéus, lenços, casacos, fitas de cabelo, pentes e escovas, ou toalhas; lavar as roupas pessoais e as roupas da cama a uma temperatura de 60ºC; desinfetar (com álcool) os itens não laváveis ou abafá-los num saco plástico durante 2 semanas; aspirar todo o ambiente, incluindo o chão, o sofá e o carro.
O tratamento para piolhos capilares é recomendado para pessoas diagnosticadas com uma infestação ativa. Todos os membros da família e pessoas próximas devem ser verificados, por isso, é importante notificar as instituições para se proceder ao correto exame dos conviventes e posterior tratamento. Alguns especialistas acreditam que o tratamento profilático é prudente para pessoas que partilham a cama com indivíduos ativamente infestados.
Tendo em conta o ciclo de vida do piolho e a coexistência de vários estados de maturação numa infestação, um tratamento eficaz exige duas aplicações do produto (1ª aplicação: mata sobretudo piolhos adultos e jovens; 2ª aplicação, 7 a 14 dias depois: mata os piolhos que entretanto eclodiram das lêndeas), de forma a eliminar os piolhos que sucessivamente vão eclodindo e a garantir a sua erradicação.
Portanto, é importante que a pediculose capilar deixe de ser causa de descriminação e isolamento social, pois pode atingir qualquer pessoa independentemente do seu nível socioeconómico, etnia ou religião.
Farmácia Moderna