Vida de um escravo

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Oiço, de repente, gritos e choros. Ainda tento fugir, mas não consigo. Alguém me agarrou com força. Fico desesperada, grito e sinto lágrimas de tristeza a cair-me pelo rosto.

Sou levada dali e quando paro de lutar olho em frente…. Éramos centenas, todos na mesma condição: homens, mulheres e crianças, seres humanos feitos escravos. Nos rostos estava estampado o medo e a revolta, o que nos está a acontecer?!

Levaram-nos para dentro de um navio negreiro e amontoaram-nos num lugar, talvez o porão, sem condições nenhumas, continuávamos amarrados. Passamos dias e dias dentro daquele espaço, poucas vezes vi a luz do dia. O cheiro não se aguentava, não havia condições de higiene. E a sede? Nem se fala, era uma sede infernal, durante a viagem devo ter bebido, cerca de 1 a 2 dois litros.

Mal dormia, não tinha posição, estava cheio de dores no corpo por causa das correntes e também da má posição, pois o espaço era muito limitado e sem um pingo de conforto. O chão estava cheio de excrementos, pois ninguém queria perder o seu lugar ao ir ao balde, daí o cheiro nauseabundo que se sentia dia após dia.

O chefe da embarcação era o demónio na terra e no mar, nunca vi pessoa tão má no mundo. Não gostava de ninguém, nem dos seus companheiros, pelo que ouvi também lhes infernizava a vida. Estava sempre a resmungar com eles, a dizer-lhes que não faziam nada, e que quando faziam, era mal feito. Estava sempre a gozar e a rir-se da nossa situação. Eu mal podia esperar que aquela viagem acabasse, não sei quanto tempo é que a viagem durou, acho que não chegou a um ano, de uma coisa eu tenho certeza, parecia que já estava dentro daquele navio há anos, parecia que o tempo não passava.

Foi uma viagem infernal, cheguei mesmo a desejar a morte para que aquela situação de humilhação tivesse um fim. Acabou, quando finalmente chegamos ao Brasil. Eu estava fraca e sentia-me completamente derrotada. Quando pus o pé em terra firme senti um alívio tão grande por aquela viagem finalmente ter acabado, que me veio um leve sorriso ao rosto.

Levaram-me, ainda acorrentada, para um mercado negreiro e lá fui conduzida para uma sala, onde durante uns dias me foi dado de comer e beber. Quando consideraram que tinha um aspeto aceitável passaram um tipo de gordura no meu corpo que me deixou brilhar, e depois lá fui posta à venda. Parecia um objeto, os interessados tocavam-me, apertavam-me os braços e as pernas, observavam-me a boca. E eu não podia fazer nada. Fui uma das escravas com mais valor, pois felizmente não tinha apanhado nenhuma doença durante a viagem.

Um homem, que parecia ser bastante rico, devido às suas vestimentas e aos acessórios que usava, andou ali a olhar para nós durante algum tempo. Tocou-me, olhou para os meus dentes, analisou-me e falou com o comerciante. Uma hora depois pertencia-lhe e estava a subir para a carroça que tinha à espera, à porta do mercado negreiro. Levou-me para trabalhar no seu engenho, estive lá durante 20 anos. Nesse período de tempo trabalhei muito, mas quando digo muito, é mesmo muito.

Trabalhávamos desde que o sol se levantava até ao sol se pôr e depois à noite apesar de estar cansada custava-me a dormir, e então rezava, para que algum dia, nem que esse dia estivesse muito longe, eu fosse uma mulher livre. Foram anos de trabalho duro e pesado, mas pelo menos o meu dono era uma pessoa decente e que até tinha um bom coração, não era nada parecido com o chefe da embarcação, e era muito rico, porém a riqueza não lhe tinha subido à cabeça.

Só era um pouco mal-humorado, mas eu até lidava bem com isso, depois do que tinha passado no navio, nada mais me abalava. Tinha um bom coração, pois como eu sempre foi uma escrava muito dedicada ao trabalho e sempre foi muito habilidosa nas minhas tarefas, concedeu-me a liberdade. Fiquei tão feliz que até me vieram lágrimas de felicidade ao rosto. Ainda hoje agradeço a este homem bondoso que me libertou. Nunca mais estive com ele, mas ele pode ter certeza que vai ficar sempre no meu coração. Esse homem teve a coragem de se desapegar de uma “coisa”, de um bem pelo qual tinha pago.

Agora sou um livre e tenho direitos!

Diana 8.ºB

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